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Gastronomia

Chiquitos: um espaço em Benguela onde cultura e gastronomia andam de mãos dadas

O projecto surgiu há cerca de um ano e conjuga sabor, cultura e lazer. Único em Benguela, o espaço que é um café e uma boutique, tem à disposição “comida sem aditivos a saber a ervas frescas e especiarias”, e exposições constantes de artistas nacionais. As opções na ementa são várias e há uma secção dedicada à culinária vegetariana, que tem adquirido cada vez mais fãs. Há ainda jantares internacionais de degustação, que trazem ao Chiquitos o melhor da gastronomia do mundo. A veia artística do espaço é evidente, com a música envolvente e as exposições fotográficas, de pintura e de artesanato que vestem as paredes, dando ao Chiquitos um toque de originalidade, e transformando-o cada vez mais numa casa de artistas.

José Alves:

Quando e como surgiu o projecto e que tipo de gastronomia exploram?

O projecto faz parte de um maior que engloba também a construção de um Hotel-Boutique. O Café complementaria o hotel. Neste momento o hotel encontra-se em avançado estado de construção, mas devido à crise actual o ritmo de obras diminuiu, e a sua conclusão foi adiada para 2018. Entretanto resolvemos iniciar a exploração do Café. Trata-se de um projecto levado a cabo por uma pequena empresa familiar que é a nossa, reutilizando, para fins comerciais, propriedades da família. Quanto ao tipo de gastronomia escolhido, tem a ver com a novidade no panorama benguelense, o uso principal de ingredientes da terra, legumes do cavaco, peixe do litoral benguelense, carne de gado da província, comida sem aditivos a saber a ervas frescas e especiarias, e simpatias nossas, pelas cozinhas do mundo. Daí termos no nosso menu ceviche peruana, tortilha espanhola, massas italianas e pratos do Senegal, Brasil, Marrocos e Moçambique.

Quais as especialidades da casa? E os pratos que fazem mais sucesso?

As especialidades são o caldo à Chiquitos, caril à moda de Goa, moqueca bahiana, couscous royale marroquino, os variados lombis à moda do sul, ceviche peruana, tosta de lagosta, bruschetas de tomate ou caranguejo, salada grega e o misto vegetariano, com tomate assado, beringela grelhada e pimentos agridoces. Há também alguns snacks que têm muito sucesso, como a mandioca frita, as cascas de batata frita e o nosso choco frito. Ao Sábado o menu de almoço é sempre africano, com pratos da cozinha nacional e do continente.

Na ementa também têm disponíveis opções vegetarianas. O que levou a esta aposta? Há muito procura pela culinária vegetariana?

Na realidade há mais procura do que esperávamos. Decidimos ter opções vegetarianas por acharmos que a oferta nos restaurantes de Benguela era quase inexistente, e porque nos agrada a cozinha vegetariana do dia a dia, principalmente a mais elaborada. No início os pratos vegetarianos do menu não eram assinalados, porque sentíamos algum preconceito em relação à palavra, e tínhamos o receio que pudesse afastar clientes. Fomos surpreendidos com a adesão que as nossas propostas suscitaram e decidimos assinalá-las no menu com um “V” verde! É que achamos uma partida de mau gosto que um cliente encontre numa sopa anunciada de legumes, um rasto de bacon, por exemplo...

Para beber as opções também são variadas?

O nosso grande trunfo é o chá gelado do Chiquitos com sabor a gengibre e cardamomo, e o nosso capuccino. Os nossos chás da casa de limão e gengibre e de caxinde também são muito solicitados. E a nossa limonada que é bastante especial. Entre os sumos naturais que servimos o mais popular é de maçã, cenoura e beterraba. Servimos também kissângua a copo e em jarro que tem muita procura. A kissângua é muito benguelense. O kir, vinho branco com licor de cassis, também é muito solicitado e acho que somos os primeiros a oferecê-lo aqui em Benguela. São também bastante elogiados os mojitos que o barman Fábio prepara, bem como os shots de vodka gelado e licor de gengibre caseiro. O irish coffee e o campari laranja são outras bebidas bastante requisitadas.

E para adoçar o paladar, quais são as sugestões?

Sem dúvida as sobremesas de chocolate: o chic choc que é uma invenção nossa, naturalmente a partir de ideias já postas em prática antes de nós, e o brownie com gelado. A crumble de maçã com gelado também é muito apreciada. Duas pasteleiras de renome da cidade fornecem-nos maravilhosos bolos de laranja e de chocolate, que vão muito bem tanto com um chá ao fim da tarde, como em sobremesa.

A frescura dos alimentos utilizados nos pratos é constantemente mencionada pelos clientes. Como garantem a qualidade dos vossos produtos? Costumam primar por produtos nacionais?

Na quase totalidade, usamos sim produtos nacionais. E como somos um café snack bar bem pequeno, não temos sequer espaço de armazenamento, para conservar alimentos por muito tempo. De modos que o consumo rápido assegura também a frescura dos alimentos.

Qual o preço médio de uma refeição no Chiquitos?

Digamos que os pratos mais caros, que têm peixes nobres e crustáceos, ou carne de vaca do lombo, custam cerca de 4000 kwanzas, e os mais baratos, sopas e pratos vegetarianos simples 800/1000 kwanzas.

A decoração é rica e colorida mas transmite uma sensação de tranquilidade. Quem foi o responsável pela decoração e qual a fonte de inspiração?

Havia um projecto inicial para o Hotel-Boutique e o Café, que as limitações impostas pela crise nos forçaram a alterar. Recorremos por isso aos materiais locais o mais possível, e com o bom gosto de uma bela equipa de amigos chegámos a este resultado. Entre os amigos directamente envolvidos na decoração do espaço, está a arquitecta Maria João Grilo, cujo estúdio Metapolis é responsável pela totalidade do projecto, a artista plástica Isabel Baptista, o João Reis que fabricou as mesas, o Victor Frias que forneceu e trabalhou as madeiras, o João Brandão que confeccionou com elas móveis incríveis. Uma bela equipa toda angolana. Queríamos um lugar bonito e tranquilo, onde as pessoas se pudessem encontrar, conversar, comer bem e estar bem. Com muito boa música. Parece que conseguimos...

Música, exposições fotográficas e de pintura, artesanato… O Chiquitos é muito mais do que gastronomia. Fale-me um pouco sobre a fatia cultural que faz parte do projecto.

Esta ideia da ligação da arte e da cultura à hospitalidade e restauração existe desde a idealização do projecto. E ao chamar a si este papel, o Chiquitos preenche uma lacuna na província de Benguela, que tem poucas iniciativas culturais deste género. O público adere porque tem interesse e se diverte e porque gostaria que mais houvesse. Não são eventos de massa, os do Chiquitos, mas são geralmente de qualidade e grátis, graças ao apoio de patrocinadores como a Soba Catumbela, por exemplo. E a coisa boa é que se vai espalhando a ideia de que o Chiquitos é uma casa de artistas, e cada vez mais artistas de várias áreas da província nos procuram para expor os seus talentos no nosso espaço. Sentimos que ainda agora começámos e esta colaboração entre o Chiquitos e os criativos da província vai trazer boas surpresas no futuro.

Desde o atendimento à gastronomia, e da decoração ao ambiente, tudo é elogiado por quem frequenta o espaço. Qual o segredo do sucesso?

Não creio que possamos já falar de sucesso. É tudo ainda muito recente, abrimos há cerca de um ano. Há uma atitude inovadora da nossa parte retribuída com a curiosidade do público. Sucesso será se conseguirmos manter no público benguelense esse entusiasmo pela nossa casa e as nossas iniciativas. Temos de continuar atentos e trabalhar muito.

Qual o balanço que fazem desde a abertura do Chiquitos até agora?

A crise afecta toda a hotelaria e a restauração. As pessoas não têm dinheiro para comer fora e os restaurantes impossibilitados de subir preços e com poucos clientes, têm sérias dificuldades em pagar salários, impostos, produtos e fornecedores. De modo que se está um pouco na corda bamba. No nosso caso, são sobretudo os eventos culturais que nos protegem. Tentamos por isso manter o ritmo, repetir os que tiveram êxito e procurar novos para estimular a curiosidade dos nossos clientes e cativar novos.

Por fim, quais os planos para o futuro? Novas entradas no menu? Novas exposições?

Sim! Vamos continuar a fazer os jantares internacionais de degustação, que têm definitivamente muito sucesso. Amigos de outras nacionalidades e residentes na província uma vez por mês cozinham especialidades das suas terras no Chiquitos com a nossa equipa. É como viajar pelos sabores do mundo e as pessoas têm apreciado muito. Já fizemos o jantar italiano, norueguês, português e espanhol. Em Março foi a noite oriental, por amigos vietnamitas, e nos próximos meses estão previstos um jantar etíope, um libanês, um iraniano e um colombiano. Os jantares internacionais têm tido muito sucesso, porque são em primeiro lugar muito saborosos e refinados, e depois porque é realmente muito divertido cozinhar entre amigos e para amigos.

Vamos continuar a fazer exposições e em Março foi a vez de Walter Ferreira, um extraordinário fotógrafo do Lobito. Vamos prosseguir também com a projecção de documentários, angolanos e africanos numa primeira fase. E haverá surpresas que por agora são apenas isso...

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