Rui, em primeiro lugar fale-me sobre si... Onde nasceu e cresceu, onde estudou...
Nasci no Huambo em 1975 e cresci entre Benguela, Lunda Norte e Luanda. Estudei em Luanda, na antiga escola 1.º de Agosto, no largo da Maianga, e no Mutu ya Kevela.
De onde veio a paixão pela fotografia?
A paixão nasceu em casa, com a minha família, mas principalmente quando peguei nos livros de fotografia que o meu pai tinha. Era difícil emprestarem-me uma máquina quando era puto, mas num dos meus aniversários, o meu padrinho ofereceu-me a primeira câmara.
Era um sonho de criança ser fotógrafo?
Não. Detestava a ideia de ser fotógrafo, pois sempre associava a profissão a fotografia comercial, tipo passe... Não me via fechado num estúdio por muito tempo, principalmente porque via o meu pai a trabalhar, incansavelmente, durante as noites, para revelar e imprimir as fotografias que tinha que entregar aos clientes, no dia seguinte. Eu não queria isso para mim, era uma criança com muitos sonhos e não tinha um fechado.
Destaca algum artista ou fotógrafo como sua influência?
Primeiro de todos, o meu tio Pinto Afonso, que foi uma fonte de inspiração e conselhos, e o meu maior crítico. Depois vários outros, como o Sebastião Salgado, David LaChapelle, Helmut Newton e outros.
Que tipo de fotografia gosta mais de fazer? Paisagens, pessoas, comercial...
Gosto de fotografia no geral. Adoro retratos e aprendi a dar mais valor à fotografia tipo passe... (risos) Mas acima de tudo gosto de contar histórias.
Como é ser fotógrafo no nosso país?
É ter sempre receio de que apareça um polícia, a perguntar porque estou a fotografar, mas mesmo assim continuar a fotografar.
E prefere trabalhar no país ou lá fora?
Tanto faz. Gosto de viajar e conhecer novas culturas, bem como descobrir todos os dias a minha.
Já conta com um grande repertório de trabalhos publicados, exposições e fotografias expostas... Ainda se lembra da sua primeira exposição? O que sentiu?
Neste mundo digital, onde as fotos perpetuam da tela do computador ou do smartphone, é sempre um orgulho olhar para elas impressas e expostas. Num mundo onde os “likes” das redes sociais parecem metralhadoras de tantos em tão pouco tempo, custa-me acreditar que as pessoas analisem tudo o que vêm. Na exposição, tu consegues realmente aperceber-te de quem perde tempo a olhar para uma imagem, e quem lá foi para tomar um copo de vinho.
Tem algum trabalho que tenha feito que seja o seu favorito? Porquê?
Não tenho nenhum em especial. Cada trabalho foi um caminho de descoberta e todos me deram prazer. Aprendo todos os dias com o que faço e é isso que me motiva, o estar sempre a aprender.
Em que projectos é que já esteve envolvido no estrangeiro? E no nosso país?
Estive em Lisboa, numa residência artística, no projecto Offline entre trânsito e viagens. Em Angola, pertenço actualmente ao colectivo audiovisual Geração 80, que me inspira e dá-me muita esperança para o futuro.
Que desafios enfrentou ao longo da sua carreira?
Acima de tudo, o maior desafio, foi tentar ser eu mesmo e não o que os outros queriam que eu fosse.
Já recebeu alguns prémios de fotografia... Qual foi o que lhe deu mais gozo receber?
Quando era mais jovem tinha sonhos como muitos jovens... Receber um prémio, ser reconhecido pelo meu trabalho. Aprendi com a vida que não é isso que nos faz melhores. Não existe o melhor fotógrafo nem a melhor fotografia do mundo.
Há algum que gostaria de ver ser-lhe atribuído?
Quando chegar a velho, e espero que chegue, (risos) ver as novas gerações a darem continuidade ao trabalho feito pelas gerações do passado, e a fazerem-no com orgulho e dedicação. Preservar a memória é o mais importante de todos os prémios.
Para terminar, tem projectos para o futuro?
Estou a terminar o meu primeiro documentário em vídeo, e espero para o ano dedicar mais tempo a um projecto fotográfico.