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Cultura

Edson Azevedo: “Fotografar em Angola dá-me mais prazer porque estou a contribuir para divulgar as belezas do país”

Nasceu em Luanda e cresceu em terras lusas. Aventurou-se pela Europa, onde explorou vários lugares e diferentes culturas até voltar a Angola. A paixão por viajar levou-o a encontrar outro amor, a fotografia, uma forma de poder registar eternamente as experiências vividas. Paisagens, pessoas e natureza são o foco da sua lente, até porque “o mais importante é capturar a verdadeira essência de uma cultura para poder passar a mensagem correcta sobre o lugar”. Aos 40 anos, e de volta ao país que o viu nascer, Edson Azevedo apresentou o seu trabalho ao público pela primeira vez, com o livro Kaluanda, uma viagem pela nossa capital em 130 fotografias. Para o futuro, espera expandir o projecto a outras províncias, mostrando ao mundo as belezas únicas que Angola tem para oferecer.

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Edson, em primeiro lugar fale-me um pouco sobre si… Onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância, que idade tem, os seus estudos…

Nasci em Luanda e com cinco anos fui viver para Portugal com os meus avós. Cresci em Portugal onde conclui o ensino secundário. Mudei-me para Inglaterra onde fiz o ensino superior na área de Informática e Negócios. Assim que acabei a minha pós-graduação aceitei uma proposta de trabalho em Itália, na indústria das telecomunicações. Depois de muitos anos pela Europa, senti que estava na altura de voltar para Angola. Aceitei uma proposta para trabalhar na indústria petrolífera angolana. Tenho 40 anos.

Quando surgiu o gosto pela fotografia? E há quanto tempo se dedica a esta arte?

Na realidade tudo começou com o meu interesse por viajar e explorar novos lugares e culturas. A fotografia foi um pouco uma consequência do facto de querer registar as minhas experiências nas viagens e poder partilhá-las com as outras pessoas. Comecei a ter um interesse mais sério pela fotografia desde 2004.

Destaca algum fotógrafo como sua influência pessoal?

Eu sigo o trabalho de vários fotógrafos que me inspiram e com quem aprendo muito, como por exemplo o Steve Mccurry, Sebastião Salgado e Ami Vitale.

Que tipo de fotografia mais gosta de fazer?

Eu sou um fotógrafo de viagens. Isso inclui fotografar paisagens, pessoas, natureza. Fauna, para retratar as belezas de um lugar e da sua cultura.

Como é ser fotógrafo em Angola? E prefere fotografar em Angola ou fora do país?

A profissão de fotógrafo já é bem difundida em Angola, sobretudo em fotografia de eventos. Existem muitos fotógrafos com qualidade nessa área. No que diz respeito à fotografia de viagens, creio que ainda há muito poucos. Hoje em dia qualquer pessoa faz fotos dos lugares que visita, com os telefones. Contudo, o mais importante é capturar a verdadeira essência de um lugar ou de uma cultura para poder passar a mensagem correcta sobre o lugar. Fotografar em Angola dá-me mais prazer porque estou a contribuir para divulgar as belezas do país, que ainda são pouco conhecidas pelo mundo.

Quais os locais favoritos que tem para fotografar? Onde é que ainda não esteve com a sua câmara e gostaria de estar?

Os meus locais preferidos no mundo, são seguramente na Ásia… Cambodja, Tailândia, Vietname, Nepal... Fico fascinado com a cultura muito interessantes que eles têm, sobretudo nos países budistas. Em Angola, tenho mais regozijo em fotografar o dia-a-dia do povo, sobretudo os pescadores, as zungueiras, taxistas... É uma experiência não só fotografar como ouvir as histórias de vida deles. Ainda tenho muito para explorar em Angola, sobretudo a vida animal do Kuando Kubango e Moxico e os povos do sul do país, que ainda vivem dum modo tradicional.

Já expôs alguma vez as suas fotografias?

Nunca tive a oportunidade de expor o meu trabalho. A primeira vez que apresentei o meu trabalho ao mundo foi com o livro Kaluanda. Espero que seja o primeiro de vários projectos, entre os quais futuras exposições.

Lançou em Luanda, a 22 de Fevereiro, o livro Kaluanda, uma viagem fotográfica pela capital, e em Março seguiu-se a apresentação em Lisboa. A adesão do público superou as expectativas?

A adesão do público foi fantástica. Pelo interesse demonstrado nas redes sociais percebi que muitas pessoas iriam aderir aos eventos. Contudo, nos dois lançamentos ter casa cheia, muitas pessoas de pé e outras fora da sala, porque não havia mais lugares, foi algo de extraordinário que superou todas as minhas expectativas.

Fale-me um pouco sobre este projecto fotográfico. Qual foi o ponto de partida? Atingiu os objectivos que pretendia? A quem se destina esta a obra?

Já há alguns anos que eu desejo contribuir para melhorar a imagem de Angola no mundo. O modo que encontrei foi de mostrar as belezas de Angola, que são pouco conhecidas internacionalmente, através de um livro de fotografias. Decidi começar por Luanda por ser a minha terra natal mas espero expandir o projecto a outras províncias. O primeiro passo, que o livro fosse bem aceite em Angola e Portugal, foi alcançado, mas ainda falta muito trabalho para alcançar o objectivo principal, de mostrar Luanda ao mundo, ou seja, a mais países.

Esta obra destina-se em primeiro lugar aos angolanos, para que se orgulhem das belezas de Luanda. De seguida, tanto aqueles que já tiveram em Angola e poderão relembrar a beleza de Luanda, como às pessoas que nunca tiveram a oportunidades de visitar Angola, e deste modo podem ter acesso a um “cartão postal” de Luanda.

O projecto foi iniciado em 2012 e durou cerca de três anos a fotografar. Posteriormente esteve em fase de produção com a editora. A maneira que encontrei de segmentar o livro foi dividi-lo em capítulos que considerei focarem-se em temas específicos, que compõem a oferta turística de Luanda. Um livro de fotografias deve sempre ter as legendas, para explicarem um pouco sobre as fotos. Além das legendas decidimos, eu e a editora, que o livro seria enriquecido com a participação de escritores/pessoas ligadas à cultura. Partindo disto convidamos os cinco escritores que deram um contributo muito valioso ao livro.

Para os interessados, o livro está à venda em Luanda, no Candando, Kibabo Shopping, Livraria Mestria (Kinaxixi), Livraria Komutu (Nova Vida), e em Benguela, na Livraria Sucam. Em Portugal, nas principais livrarias, incluindo Fnac e Bertrand, e ainda online, em www.wook.pt.

Em que outros projectos já esteve envolvido?

Nunca participei num projecto desta dimensão a nível nacional e internacional, relacionado à imagem cultural de Angola. Já fotografei para campanhas de marketing de bancos, empresas da indústria petrolífera e publiquei algumas foto-reportagens em revistas, sempre focado em fotografias de viagens.

Que desafios já enfrentou enquanto fotógrafo?

Por enquanto, a fotografia é somente um hobby para mim. Tenho outras actividades profissionais que ocupam a maior parte do meu tempo. Assim sendo, só poderei falar de desafios enquanto fotografava, em termos de ser-me vedado a acesso a certos lugares que gostaria de retratar e pessoas que não aceitavam ser fotografadas.

Já recebeu algum prémio fotográfico? Há algum que gostaria de ver ser-lhe atribuído?

Não tenho hábito de participar em concursos fotográficos importantes, desde que me dedico mais seriamente à fotografia. Creio que o sonho da maior parte dos fotógrafos de viagens como eu, é ser reconhecido e ter o seu trabalho publicado pela National Geographic.

Por fim, quais os seus planos para o futuro?

Tenho muitos planos em mente. Por enquanto continuo a trabalhar na promoção e internacionalização do livro Kaluanda, que acredito ainda ter muitas pernas para andar. Talvez a partir do próximo ano comece a trabalhar em novos projectos, entre os quais estão incluídas outras províncias e exposições.

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