O dia iniciava-se na calmaria e convicto esplendor: era o radioso dilúculo da Restinga.
Ainda com todos a dormir: lavou os dentes, escolheu o biquíni, que lhe apetecia, vestiu o vestido de praia, comprido, engoliu o café do seu inicio perfeito; e saiu.
Contemplou a luz do sol de África que aparece, e parte sempre, no abalo das recordações infindáveis.
Aquele dia - especial - aparecia numa vontade resplandecente e sossego sereno; a água do mar, brilhante, retalhava uma luz incandescente – ofuscando os olhos azuis, ainda demorados de dormir – que a fez comover na emoção das lembranças dos seus.
Deteve-se na quietude. O que fazia daquele dia e lugar de Angola - singelo e despido - de tão especial era, talvez, porquanto, ali, existia harmonia necessária: respira-se a terra, escuta-se o tempo, toca-se e sente-se a vida; sem a ânsia de o mostrar, que se tem e se faz.
Avançou alguns passos no caminho do mar mágico de Benguela e uma lufada de ar, ameno, abriu uma linha, diáfana, sobre o sol. Distinguiu a certeza - pela via de um simples amanhecer - de quem vive mais do que diz e sente o que lhe chega. Não duvidava: fazia 40 e era feliz.