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The Alexe Affair: “A sílaba tónica tem sido a divulgação da beleza natural e cultura angolanas”

Cresceu a conhecer cada recanto de Luanda, mas a vida quis que fizesse as malas e visse grandes avenidas e marginais. Viveu em Lisboa, Paris, Londres, Genebra e Frankfurt. Advogada de profissão e por vocação, confessa-se uma apaixonada pelas viagens, mas não esconde, no entanto, alguns affairs com a escrita, a música e a fotografia. O derradeiro chama-se The Alexe Affair.

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* Affair é uma expressão que vem do francês affaire, e significa caso. É frequentemente usada em português para definir um caso amoroso ou romance escandaloso, que pode ser público ou mantido em segredo.

Muito mais que um simples blog de viagens, este “caso” de Alexandra Gonçalves é a possibilidade de descoberta de uma Angola de Norte a Sul, um país com uma “beleza inigualável” e uma panóplia de ofertas turísticas. Quem está do outro lado do ecrã agradece.

Alexandra, em primeiro lugar fale-nos um bocadinho sobre si. Onde nasceu, onde cresceu, como foi a sua infância?

Nasci e cresci em Luanda, até aos 12 anos. Vivi, nos primeiros anos, no Bairro dos Coqueiros e tenho vívidas memórias de “vivermos o bairro todo”. Os miúdos do prédio, para se entreterem, brincavam pelo bairro, o que hoje em dia é impossível… pelo jardim dos Coqueiros, pela Fortaleza, pela Marginal e pelo Museu de Antropologia, que conhecíamos como a palma da nossa mão.

Aos 12 anos a família mudou-se para Lisboa, onde vivi durante 15 anos, e apesar de ter continuado ligada a Angola, e a visitar o país todos os anos, tive o privilégio de conseguir conhecer a fundo outra cultura, que se cruza com a cultura angolana em vários aspectos, e de ter mesclado vivências.

Tive uma infância extremamente feliz, rodeada de irmãos e muitos primos e amigos. São os privilégios das famílias grandes. Lembro, com especial carinho, as férias grandes passadas em Cabinda, com os avôs… as mais especiais, as mais deliciosas.

Diz que é advogada mas com “affairs noutras artes”. Porquê?

Sou advogada de profissão e por vocação. Venho de uma família de juristas, portanto diria, obviamente exagerando, que o Direito nos corre nas veias. Temos, no entanto, uma faceta artística também muito acentuada. O meu pai, por exemplo, para além de Advogado, é músico, compositor e um amante das Artes Plásticas.

Julgo que tenho alma de artista, por sentir uma necessidade muito premente de me expressar pelas Artes, seja pela escrita, pela fotografia ou pela música. São actividades que, longe de serem díspares, antes se complementam e me fazem sentir realizada.

E como é que surgiu o seu derradeiro “affair”, o The Alexe Affair?

O The Alexe Affair surgiu na sequência da “tal” necessidade de me expressar pelas Artes (no caso, pela escrita), aliada ao gosto inexorável pelas viagens.

É, essencialmente, um blog de viagens. Adoro viajar e conhecer outras culturas. Ter amigos por todo o Mundo faz com que sintamos com que o Mundo seja (um pouco) a nossa casa. Ter vivido em Paris, Londres, Genebra e Frankfurt, para além de Luanda e Lisboa, sem dúvida que contribuiu para esse sentimento. No entanto, é engraçado perceber que, nessas inúmeras viagens, retiro um prazer imenso da constatação de que somos, de facto, todos diferentes e todos iguais. As nossas similitudes encantam-me.

O que é que pretende com este blog? Quem gostaria que lhe fizesse uma visita regularmente?

O blog foi inicialmente criado, como referi, para satisfazer a minha necessidade de me expressar pelas Artes. Mas os projectos vão crescendo e se transformando, passando a ser um bocadinho de toda a gente que os aprecia.

Comecei por fazer narrativas de viagens para guardar memórias das minhas viagens pelo Mundo, e para as partilhar com os amigos. Agora, especialmente com a mudança para Angola e por estar muito focada em palmilhar o meu país, a sílaba tónica tem sido de facto a divulgação da beleza natural e cultura angolanas.

Quem gostaria que me visitasse? Toda a gente, claro. Especialmente aquelas pessoas que partilham o meu gosto pelas viagens, em geral, e em particular quem tenha curiosidade em conhecer melhor Angola.

Assume-se como uma “viajante incurável” e relata as descobertas no blog. Em Angola, costuma aconselhar os visitantes com locais para visitar, dormir, comer… Sente falta deste tipo de informação no nosso país?

Sinto falta de meios eficazes para veicular todo o tipo de informação. A nível turístico, primordialmente, mas não só. Neste campo a informação é escassa, embora haja bons esforços nesse sentido.

Luanda, por exemplo, que tem já uma agenda cultural interessante, peca, no entanto, pelo facto de os produtores e promotores desses eventos não conseguirem, geralmente, de forma eficaz, chegar ao grande público. Não falo de um concerto em grande escala, mas por exemplo, de uma vernissage…

Vê Angola como uma potência turística à escala africana?

Sem dúvida alguma. A beleza natural do país é inigualável e muito variada, de Norte a Sul, o que poderá ser polo de atracção para uma variedade de turistas: backpackers em busca de ondas para surfar, os praticantes de golfe, os que procuram sossego num Spa, rodeados pela natureza, os mais aventureiros que por estrada queiram conhecer o país de lés a lés… As possibilidades são infinitas.

Vejo Angola como uma potência turística à escala mundial, se conseguirmos, nos próximos anos, encontrar um equilíbrio sustentável em termos de acessibilidade (financeira, por exemplo) e disponibilidade de serviços ligados ao Turismo, transversais a toda a sociedade, que passam pela hotelaria, restauração, transportes e serviços diversos, de criação de infra-estruturas capazes, de redes aéreas, ferroviárias, marítimas e terrestres. É um sector que, para se poder desenvolver, implica que haja um desenvolvimento e organização do próprio país, em larga escala, e que claro, irá potenciar a criação de emprego para uma franja alargada da sociedade.

Claro que a hospitalidade e sorriso aberto dos angolanos fazem, por outro lado, toda a diferença, portanto eu diria que temos metade do caminho andado para que as pessoas se sintam bem-vindas.

A produtora audiovisual The Art Affair é outro dos seus projectos. Pode falar-nos sobre ele?

A produtora The Art Affair é outro dos meus affairs. Foi criada em 2014, com o objectivo de produzir conteúdos ligados à cultura, às artes, à natureza, ao desporto e ao ambiente.

Estamos, desde o ano passado, em parceria com a portuguesa The Takes, a produzir aquele que será o primeiro filme documentário sobre Surf em Angola. O filme roda por toda a Costa Angolana, de Cabinda ao Cunene, e pretende mostrar a relação do nosso país com o surf, o potencial das nossas ondas para a prática do desporto, bem como a cultura e a beleza natural de Angola. O projecto será lançado em Setembro deste ano.

A advocacia, as viagens, a moda, a arte. Existe uma panóplia de paixões que conduz a sua vida. Como é consegue conjugá-las?

Julgo que o segredo está na gestão do tempo, aspecto em que vou trabalhando ao longo da vida, no facto de adorar o que faço, e de me entregar apenas aos projectos a que me sinto emocionalmente ligada. Muito bem disse Confúcio: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás  que trabalhar nem um dia na tua vida”.

O que é que espera do futuro? Gostaria que os seus “affairs” fossem cada vez mais uma inspiração para os angolanos?

Se porventura o forem, isso deixar-me-ia, logicamente, muito feliz. Costumo dizer que quem anda pelo Mundo acaba por ser um Embaixador do seu país. Tento, por isso, representá-lo o melhor que sei.

No meio de tantas dificuldades e “feridas da história” que temos ainda que ultrapassar, porque não realçarmos o que temos de melhor, para que sirva de inspiração para todos aqueles que cá estão, amam Angola e querem ver o país progredir? Este é o lema por que me pauto.

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