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Saúde

Alina M. Sánchez em destaque nos CEDUMED: “Angola sabe que pode contar comigo”

Alina Sánchez é espanhola. Conta formações superiores em ciências farmacêuticas e da educação. A extensa carreira levou-a à coordenação do Projecto de Desenvolvimento Profissional Continuo para Farmacêuticos Africanos de Expressão Portuguesa, uma iniciativa privada que visa trabalhar para um ensino farmacêutico da mais alta qualidade nas universidades. Angola tornou-se cada vez mais próxima. A distinção em duas categorias nos Prémios CEDUMED, da Clínica Multiperfil, veio reforçar esse sentimento e a vontade de cooperar com o nosso país. A ‘doutora’ vê Angola “preparada para começar o trânsito pelo caminho da inclusão do farmacêutico como parte activa da equipa de saúde” e diz-se pronta para ajudar nesta viagem.

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Alina, o que é que a levou a concorrer a este prémio?

Concordando com os objectivos do Projecto de Desenvolvimento Profissional Contínuo para Farmacêuticos Africanos de Expressão Portuguesa, sob minha coordenação, achei por bem apresentar no âmbito do prémio resultados de trabalhos em termos de formação e pesquisa feitos por e para o aprimoramento do ensino farmacêutico em Angola.

Considero muito importante chamar a atenção de todos os actores do processo formativo, bem como do sistema de saúde, sobre a pertinência do farmacêutico para garantir o uso racional dos medicamentos, e melhorar os indicadores de saúde, bem como a qualidade de vida das pessoas que usam medicamentos. No entanto, o facto de ter recebido esta distinção foi uma verdadeira e grande surpresa.

 Com quantos trabalhos concorreu?

Concorri com dois trabalhos. Na categoria “Formação” foi apresentado o livro “Cuidados Farmacêuticos: sugestões para um currículo de formação farmacêutica focalizado no paciente”, produzido pela Mayamba Editora em Angola.

Na categoria de “Investigação Científica”, apresentei o Projecto de Desenvolvimento Profissional Contínuo para Farmacêuticos Africanos de Expressão Portuguesa, acompanhado por um estudo de caso sobre o ensino farmacêutico universitário em Angola. Neste caso, o projecto foi uma pesquisa aceite pela Federação Internacional Farmacêutica e publicada no congresso da própria organização no ano 2016 na Argentina. Nas duas categorias fui distinguida com o segundo prémio.

Pode falar-nos sobre cada um dos projectos?

Em relação ao livro “Cuidados Farmacêuticos”, premiado na categoria “Formação”, o mesmo é um grande aporte em termos de garantir uma literatura básica para o ensino desta matéria nas faculdades de farmácia de Angola, e nos restantes países abrangidos pelo projecto.

Ao mesmo tempo, o texto constitui uma ferramenta de trabalho de carácter metodológico para os professores que ensinam farmácia e ciências da saúde em geral. Para além do mais, aporta os conhecimentos das leis que governam o processo de formação dos profissionais nas universidades, entendendo a universidade como uma instituição social. Este texto foi apresentado no ano 2016 no Instituto Superior de Ciências da Saúde da Universidade Agostinho Neto, com grande aceitação e demanda dos estudantes e docentes, bem como de profissionais da saúde.

No que diz respeito ao trabalho presentado na categoria “Investigação Científica”, o relatório sobre o ensino farmacêutico em Angola constitui a primeira presença dos temas de educação farmacêutica do país, no âmbito da Federação Internacional Farmacêutica, conferindo a Angola uma alta visibilidade internacional neste campo em termo de Investigação e Desenvolvimento. Acredito que este projecto poderá abrir as portas para importantes cooperações internacionais e contribuirá para aumentar a qualidade do ensino superior farmacêutico no país.

Sendo um dos trabalhos premiados justamente um livro sobre cuidados farmacêuticos, perguntava-lhe qual a importância desta temática para o sistema de saúde nacional e para a população angolana.

Na Declaração de Tóquio, resultante da segunda reunião da OMS sobre o papel do farmacêutico, refere-se o conceito de Cuidados Farmacêuticos como um “conjunto de atitudes, comportamentos, e conhecimentos na prestação da farmacoterapia, com o objectivo de atingir resultados terapêuticos concretos em saúde e na qualidade de vida do doente”.

Os mercados tradicionais das actividades farmacêuticas não se encontram num caminho de crescimento que satisfaça os seus próceres e, para garantir a expansão global, olham para África. A consultora IMS Health, calculou o aumento das despesas farmacêuticas no continente em 30.000 milhões de dólares no ano 2016, prevendo que, em 2020, o investimento em medicamentos destinados a África poderá chegar a 45.000 milhões de dólares.

Com esta informação, contrasta o facto de o continente africano ser caracterizado por um défice de pessoal de saúde muito significativo em comparação com os países desenvolvidos. Infelizmente, os farmacêuticos e o pessoal de apoio à farmácia são poucos em muitos países e a sua formação tem-se desenvolvido de uma forma insuficiente.

Outro ponto, não menos importante, está relacionado com a formação dos professores para encarar estes desafios. Ser farmacêutico não é uma condição suficiente para ser professor de farmácia. Será necessário, como declarou Schulman, o domínio pedagógico dos conteúdos que suportam estas ciências para garantir a produção de conhecimentos significativos.

Falar em Cuidados Farmacêuticos é fazer referência a uma filosofia de prática que representa o mais avançado no âmbito dos modelos profissionais farmacêuticos ao nível mundial, considerando a concorrência destes profissionais numa equipa de saúde com um processo estruturado, focalizado no paciente e visando a obtenção de resultados concretos em termos de gerenciamento da farmacoterapia para atingir objectivos de qualidade de vida do paciente.

Este livro e a sua aplicação no âmbito do ensino farmacêutico, bem como na prática profissional, é uma clara oportunidade que Angola tem de marcar a diferença no contexto da comunidade lusófona em termos de ensino farmacêutico universitário e qualidade do serviço de saúde.

O que é que estas distinções, no seu caso internacionais, representam para si? 

Estes prémios representam para mim um reconhecimento muito especial, em primeiro lugar porque são um reconhecimento ao trabalho desenvolvido durante muitos anos, no campo do ensino farmacêutico, e especialmente na área de Cuidados Farmacêuticos que é parte de minha paixão farmacêutica, porque acredito que é preciso cuidar das pessoas que usam medicamentos, garantindo bem-estar e qualidade de vida e isso ninguém mais do que o farmacêutico pode fazer competentemente, se o preparamos para isso.

Mas na verdade, o que torna estes prémios muito especiais para mim, é o facto de terem sido atribuídos em Angola, um pais que faz parte de minha história pessoal, um povo e uma cultura que admiro e respeito. É certo que nunca morei em Angola, mas Angola mora sempre em mim. No entanto, por detrás de toda acção prática no fundo existem um conjunto de ideias e emoções que movem as pessoas e por isso a satisfação tão grande em ganhar o prémio num evento feito em Angola.

Muito tempo já passou desde aquela data em que, semanalmente, os meus colegas angolanos na universidade aproveitavam a chegada do Jornal de Angola para me ensinar as primeiras palavras na língua de Camões. Depois vieram os alunos, muitos dos quais hoje formam parte da força farmacêutica em Angola e restantes países africanos. Foi desta forma que a ligação com esta terra se tornou parte da minha vida.

Neste sentido, gostaria de expressar os meus agradecimentos a pessoas como Adriano Mixige ( Adido Cultura da Embaixada de Angola no Reino de Espanha), Arlindo Isabel (Director da Mayamba Editora, responsável pela edição do livro premiado),
Carlos Pedro Cláver Yoba (Reitor da Universidade Lueji ANkonde, prologuista do livro “Cuidados Farmacêuticos”) e Joao Afonso Chipepe (escritor, assessor na SonAir). E como não podia deixar de ser, deixo o meu mais profundo agradecimentos a cada um dos membros do júri do Prémio CEDUMED por terem considerado estes trabalhos, o que mostra que Angola é um país preparado para começar o trânsito pelo caminho da inclusão do farmacêutico como parte activa da equipa de saúde, garantindo os mais altos níveis de qualidade na educação e serviços farmacêuticos prestado à população.

Tendo em conta o resultado das suas investigações, que avaliação faz do actual estado das Ciências Farmacêuticas em Angola?

No que diz respeito ao estado actual das Ciências Farmacêuticas em Angola, acho que o trabalho vai no bom caminho. Neste momento o país tem uma Ordem que sem dúvida irá apostar muito na organização e padronização da actividade profissional do farmacêutico, bem como na protecção e defesa da nossa classe.

Acho muito importante o facto de prestar atenção à formação dos farmacêuticos e as necessidades de progredir na qualidade do ensino e dos programas de formação. Igualmente, é importante continuar o trabalho nos campos do estabelecimento das directrizes curriculares para Ensino Farmacêutico em Angola, bem como dos indicadores de desenvolvimento profissional contínuo, como forma de garantir a qualidade e competência dos profissionais ao longo das suas carreiras.

Qual seria a sua disponibilidade para uma cooperação mais directa com Angola neste campo?

Quanto à possibilidade de desenvolver projectos em Angola, é algo em relação ao qual tenho vindo a ser abordada até mesmo por alguns futuros farmacêuticos, estudantes nas universidades angolanas. Estarei sempre disponível a cooperar nesse âmbito, qualquer que seja o convite é bem-vindo, desenvolvendo acções e projectos no campo do ensino (pós-graduação), bem como na pesquisa farmacêutica. Angola sabe que pode contar comigo.

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