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Sodiba ainda só sabe do arresto a Isabel dos Santos por comunicado

O administrador da Sodiba, uma das empresas de Isabel dos Santos arrestadas, afirmou esta Segunda-feira que, mais de um mês depois, só sabe daquela decisão pelo comunicado de imprensa e que a cervejeira apenas tem recursos para funcionar até Março.

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Em entrevista à agência Lusa, Luís Correia, presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Distribuição de Bebidas de Angola (Sodiba), que produz em Luanda a marca própria de cerveja Luandina e a portuguesa Sagres, garantiu que a empresa, para já, está a “laborar normalmente” e que de Dezembro para Janeiro, no primeiro mês após o arresto decretado pelo tribunal, as vendas até cresceram 13 por cento.

“No curto prazo a situação está normalizada e controlada, o que me preocupa é o médio prazo”, afirmou Luís Correia, aludindo à sua proposta, aprovada pelos accionistas, de um plano de negócios dependente da injeção de 1500 milhões de kwanzas no primeiro trimestre, essencialmente para compra de matéria-prima, travado pelo arresto anunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana em 30 de Dezembro às empresas de Isabel dos Santos.

“Estes valores são essenciais para nos permitir o investimento em embalagens de vasilhame, grades e garrafas, pois o mercado angolano, fruto da falta de poder de compra, é um mercado cada vez mais de retornável, bem como, para pagamentos de responsabilidades vencidas a fornecedores e compra de matéria prima para dar continuidade ao negócio”, explicou o administrador, português.

Só em Janeiro, esse plano de negócios previa uma injeção de 600 milhões de kwanzas que não foi concretizada, com Luís Correia a recordar que com apenas três anos a empresa ainda não gera ‘cash flow’ suficiente para cumprir com todas as responsabilidades, o que só deverá acontecer em 2021. A isto, acrescenta, surgem as “responsabilidades” junto dos bancos financiadores, com prestações de juros que vencem, diz, no primeiro trimestre deste ano.

“Com o arresto dos bens dos últimos beneficiários da Sodiba e o congelamento das suas contas bancárias, a exequibilidade deste plano de negócios está em causa, bem como o cumprimento das responsabilidades junto dos bancos financiadores que estão muito preocupados com as potenciais imparidades e provisões que esta situação possa gerar”, alertou.

Com o arresto, divulgado em comunicado de imprensa pela PGR, a Sodiba foi uma das mais afectadas, uma vez que conta apenas com Isabel dos Santos e Sindika Dokolo como accionistas, aguardando-se entretanto a apresentação em tribunal da acção principal.

“Absolutamente nenhuma informação por parte do tribunal. Aliás, a Sodiba nunca foi formalmente notificada do Despacho-Sentença e apenas dele tomou conhecimento pelo comunicado de imprensa do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da PGR de Angola”, afirmou Luís Correia. Questionado pela Lusa, explicou que apenas foram feitas, entretanto, duas reuniões, para “alguns esclarecimentos e a pedido da administração de cervejeira, com a direção jurídica do Banco Nacional de Angola.

Apreensivo com a indefinição actual, aponta para as consequências da falta de injecção do capital previsto até ao final de o próximo mês: “Se o arresto se prolongar no tempo e se nenhuma decisão for tomada no sentido de permitir o apoio dos accionistas à Sodiba, conforme previsto e necessário, a viabilidade da empresa tal como estava pensada e idealizada está claramente condicionada”.

A Sodiba emprega atualmente, de forma direta, 390 colaboradores na fábrica, logística, distribuição e serviços centrais, além de 130 colaboradores na área comercial.

Luís Correia garante que “no imediato nenhum posto de trabalho está em risco”, o mesmo acontecendo com a produção das cervejas Luandina e Sagres, tendo em conta que a empresa “está a crescer” e tem um plano de negócios para implementar em 2020.

“Quero acreditar que toda esta situação se vai resolver, de uma forma ou de outra, e que os accionistas poderão injectar na Sodiba os valores necessários à continuidade, como previsto e como é sua vontade expressa”, afirma, recordando que os accionistas (Isabel dos Santos e Sindika Dokolo) já investiram naquela fábrica mais de 160 milhões de dólares desde 2017.

Luís Correia, escolhido em 2019 por Isabel dos Santos para liderar Sodiba, está em Angola desde 2006, inicialmente no grupo Refriango, também na área das bebidas, onde chegou a ser administrador-executivo. Exerceu depois, durante quatro anos, funções de direcção no Grupo Castel, que produz a histórica cerveja angolana Cuca, liderando a equipa responsável por vendas de 40 mil milhões de litros de cerveja e mais de 15 mil milhões de litros de refrigerantes e bebidas não alcoólicas.

Segundo dados da empresa, a Sodiba pagou mais de 1971 milhões de kwanzas de impostos em 2019. De acordo com o plano de negócios para 2020, este ano deverá contribuir para os cofres do Estado com cerca de 3000 milhões de kwanzas, também em impostos, devido ao previsto “aumento de vendas, mas também do aumento da carga fiscal nas cervejas”.

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