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Opinião A Opinião de Janísio Salomão

Crise cambial em Angola: quando terá fim?

Janísio Salomão

Mestre em Administração de Empresas, Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas

A situação em que se encontra imbuída a economia angolana tem suscitado a muitos a seguinte pergunta: quando terá fim a crise cambial em Angola?

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Importa esclarecer aos nossos leitores que a crise cambial é um reflexo sistémico da economia angolana. Como consabido, a economia é um todo, encontram-se interligados diversos sistemas: Financeiro, Monetário, Fiscal e o Cambial. Todo este sistema da economia, acabou por ficar fortemente afectado com a crise que, acabou por se instalar na espinha dorsal da economia angolana.

A crise que teve a sua génese nos finais de 2014, devido à queda abrupta do preço do barril de petróleo em mais de 50 por cento, e acabou por deixar o saldo da balança comercial numa situação muito fragilizada, pois o petróleo ainda é a principal matéria-prima de exportação representando mais de 95 por cento e, a principal fonte de obtenção de divisas para o país.

A queda do preço do petróleo, originou a redução da entrada de divisas no país e consequentemente a redução da oferta de divisas por parte do Banco Nacional de Angola (BNA) ao sistema financeiro (bancos comerciais) e, mantendo a curva da procura constante, as necessidades não foram acompanhadas pela respectiva oferta, gerando assim o acumulado de necessidades de divisas insatisfeitas pelo sistema financeiro.

Claramente podemos verificar o comportamento do gráfico, a partir do ano de 2014 que, apresenta uma tendência negativa ou decrescente, o volume de divisas disponibilizadas pelo BNA reduziu drasticamente.

Situação esta que, tem obrigado ultimamente o BNA disponibilizar ao sistema financeiro euros em relação a dólares;

O montante de dólares disponibilizados em 2016 atingiu uma cifra de 730,15 milhões e somente se verificou nos meses de Janeiro, Fevereiro e Outubro. Já a oferta de euros foi efectuada com alguma regularidade nos meses de Fevereiro a Dezembro, totalizando um montante global de 9,6 mil milhões.

A problemática dos dólares está relacionada com o incumprimento das normas internacionais por parte de grande parte dos bancos que operam em Angola, situação que contribuiu para o corte das relações com os correspondentes dos bancos angolanos no exterior, sobretudo o fornecimento de divisas, deixando deste modo o sistema financeiro nacional numa da órbita completamente diferente do sistema financeiro internacional.

Consequências

A reduzida oferta de divisas acabou por se repercutir na economia como um todo, pois Angola ainda é um país importador, sendo que, grande parte dos bens e serviços necessários para o funcionamento da economia (>80 por cento) são importados, como tal, o sector produtivo e empresarial foram fortemente afectados.

A fraca capacidade de importação originou a escassez de produtos diversos com grande enfoque para produtos da cesta básica, devido ao limitado acesso às divisas.

Como consequência da redução da oferta de bens e serviços, os preços dos produtos disparam no mercado atingindo a inflação mensal uma taxa de 3 por cento, a inflação dos últimos 12 meses atingiu um pico de 41,15 por cento.

O kwanza desvalorizou em mais de 30 por cento, a taxa de câmbio conheceu um significativo aumento.

Embora ultimamente se tenham evidenciados os esforços por parte do BNA para minimizar a oferta de divisas, a mesma ainda é insuficiente para fazer cobertura diversas da população como:

  • Importação de produtos diversos;
  • Pagamento das mensalidades de estudantes no exterior do país;
  • Pagamento de consultas médicas e medicamentosas;
  • Transferências de ordenados dos trabalhadores expatriados;
  • Cobertura de viagens;
  • Restrição dos Cartões Visa.

Outrossim grande parte da população vê as suas expectativas goradas quando fica meses após meses à espera de uma resposta mais célere das solicitações de cambiais submetidas aos bancos comerciais. que alegam que os atrasos verificados são da responsabilidade do BNA; Muitos cidadãos viajam sem divisas solicitadas, nem cartões VISA.

Para quando o fim da crise cambial?

Não existe data prevista para o fim da crise cambial, pois a situação, sobretudo em Angola continua muito dependente do preço da principal commodity de exportação: o "petróleo". Caso o preço do petróleo aumente, tal situação tende a melhorar, deixando a balança comercial angolana com um saldo superavitário, caso contrário, deficit.

As reservas internacionais líquidas (RIL) não continuaram a serem utilizadas com regularidade devido aos limites que as mesmas tendem a atingir, sendo que actualmente se estimam em 20 mil milhões de dólares.

Torna-se de todo importante o alinhamento com as melhores práticas do sistema financeiro internacional, para que Angola volte a ter os correspondentes nos principais mercados internacionais, facilitando assim o acesso a divisas, bem como o levantamento do veto de obtenção de divisas por parte da Reserva Federal Americana (RFA).

"Não devemos continuar a colocar todos os ovos na mesma cesta", já dizia Warren Buffet, ou seja, devemos acelerar a política de investimento para que a economia não esteja unicamente assente no sector petrolífero, situação que nos deixa mais vulneráveis às alterações do ambiente macroeconómico internacional.

Por isso, o fim da crise cambial sine die!

Opinião de
Janísio Salomão

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